HERÓIS do MAR
Já mergulhados em 2013 começam a chegar, do lado da economia, notícias que, se por um lado, são encorajantes, por outro, deixam-nos também algo intranquilos, já que algumas nuvens negras pairam no ar e, tudo indica, podem vir a ensombrar o desenvolvimento e o crescimento que o comércio externo do País conheceu nos últimos anos.
Algumas das boas notícias, que afinal até já se conheciam, vieram do lado dos portos. Há que destacar a extraordinária “performance” de alguns portos portugueses que, em 2012, bateram, sucessiva e expressivamente, recordes de movimentação de cargas, com taxas de crescimento que surpreenderam mesmo os geralmente mais optimistas. Ninguém tinha previsto crescimentos desta dimensão, e como tal, esta foi uma das poucas boas surpresas que 2012 nos deixou.
Claro que seria ridículo dissociar os resultados obtidos, do efeito da greve na estiva que ensombrou e prejudicou as cargas movimentadas no segundo semestre nos portos de Aveiro, Lisboa e Setúbal. No entanto deve referir-se que, até à greve, todos os portos portugueses estavam já crescer significativamente, e que o jogo de somas e perdas influenciado pelo “factor” greve teve um amplo sentido positivo no contexto macro dos portos. Do episódio da greve e das suas consequências, fica para a História a “triste” lição, que a carga, tal como a água, encontra sempre o seu caminho que, quantas vezes mais percorrido, se pode transformar de alternativo em definitivo. Esperemos, para bem do País e da economia, que esta lição não seja nunca mais esquecida.
Outra excelente noticia, esta bem fresca, prende-se com o retorno inesperado, pela precocidade do momento, de Portugal aos mercados financeiros. Foi a primeira emissão de longo prazo, desde que se pediu ajuda internacional, e se foi confrontado com o “espartilho” dos mal amados credores. O sucesso desta operação foi muito positivo. Pelo excedente da procura, pela taxa conseguida, pelo perfil/nacionalidade dos compradores (93% estrangeiros) e, não menos importante, pelo aspecto psicológico que, pelo mediatismo, não deixará de ser uma ajuda e um empurrão motivante que tanto precisamos. Sem que, de momento, se consiga quantificar no quotidiano o significado do sucesso desta operação e, ainda mais importante, que isso venha matar a fome aos mais desprotegidos nesta crise, fica, no entanto, um sabor a prémio de consolação, face aos enormes sacrifícios a que todos temos estado sujeitos.
As más noticias vêm de fora, e não têm necessariamente a ver com o nosso desempenho. O FMI e algumas das Instituições internacionais de referência, vêm agora rever em baixa as suas previsões para 2013. Destacam-se um, ligeiro, menor crescimento global (3,5% contra 3,6%) e uma inversão para negativo (de +0,2% para -0,2%) no crescimento médio nos Países da zona Euro. Face a estes números também o Banco de Portugal reviu também as suas previsões, e as notícias que nos vem dar, no que toca às exportações, não são animadoras pois reduz, em por causa do principal destino das nossas exportações (Europa) a expectativa de crescimento de 5 para 2%.
É pois, neste contexto, que temos que definir pragmaticamente, e com urgência, uma estratégia que obrigue as previsões do Banco de Portugal a falharem.
Há que incentivar, por todas as formas e sem pruridos, o redireccionamento ainda mais intensivo das nossas exportações para além mar. Há que apoiar, sem hesitações e com outros incentivos, que não somente as palavras, as pequenas e médias empresas exportadoras nessa aventura para lá dos Oceanos. Há que fazer uma campanha maciça para que todos compreendam porque é que o País tem que apoiar quem exporta para além do Atlântico. Há que levar a ideia do “Compre Português” para os Países que mais crescem.
Todos seremos poucos para ajudar a levar cada vez mais produtos portugueses por esses mares fora, mas essa aventura tem que ser um dos desígnios colectivos de Portugal.
Tenho a certeza que vamos conseguir, não fossemos nós Heróis do Mar.
António Belmar da Costa