
FARÓL CABO CARVOEIRO
Corria o ano de 1790 quando o farol do Cabo Carvoeiro, um dos mandados edificar pelo alvará com força de lei de 1 de Fevereiro de 1758, principiou a funcionar.
O "Roteiro" de Marino Miguel Franzini, publicado em 1812, descrevia assim a zona de implantação do farol:
" O Cabo Carvoeiro demora 17 milhas ao S 50º O do Faxa de S.Martinho, e é formado por uma ponta de rocha de mediana altura, cortada a pique, com uma pedra destacada pela parte de O., a que chamam a nau (vede o plano das Berlengas e Peniche). Um farol elevado está construído no alto deste cabo, que se acha em 39º 21',8 de lat., e 0º16',4 oc. A pequena distãncia do farol há uma bateria denominada da Vitória, por estar chegada à ermida do mesmo nome".
A primeira descrição pormenorizada da instalação que possuímos data de 1865 e é da autoria do capitão-de-fragata Francisco Maria Pereira da Silva, inspector dos faróis, que mais tarde viria a ser director-geral dos Trabalhos Geodésicos, Topográficos, Hidrográficos e Geológicos do Reino, entre 1874 e 1879.


A lanterna aue abriga este aparelho tem 8,24m de altura, com oito faces de 1,67m de largo cada uma, havendo ao alto da cúpula um pára-raios e condutor, ambos mal dispostos.
Tanto a tiragem para o fumo como a ventilação dentro da lanterna não são boas, amontoando-se por estas causas, e talvez também por falta de limpeza, uma grande quantidade de fuligem na parte superior da lanterna e ainda am algumas vidraças superiores. O edifício, em que assenta a lanterna, é uma torre com quatro faces composta de três corpos, sendo o primeiro, a contar da base, uma pirâmide quadrangular truncada, e o segundo e terceiro dois paralelipípedos rectângulos com dimensões próximamente iguais, sobre o último dos quais há uma varanda ou cortina da cantaria que protegeda violência do vento e da chuva a parte inferior da lanterna. Esta torre é construída de alvenaria com cunhais de cantaria, e as paredes caiadas de branco sem azuleijos.
Junto a esta torre existem bons alojamentos para os faroleiros, oficinas e arrecadações, ainda que o depósito para azeite não esteja reservado como convinha, por ser na casa que dá entrada para este farol pelo lado sul, a qual tem dois tanques de pedra, levando, um, 30 almudes de azeite e o outro 32, além de duas talhas de folha-de-flandres, recebendo cada uma 18,5 almudes, ao todo 99 almudes ou 1678,05 litros.

Utilizou primitivamente o azeite como combustível, consumindo cerca de 2 268 quilogramas anuais. Na sessão inaugural da Comissão de Faróis e Balizas, em 28 de Julho de 1881, o engenheiro Castanheira das Neves formulava as seguintes observações relativamente ao farol do cabo Carvoeiro, reportadas ao ano de 1880: Encontra-se em mau estado a lanterna deste farol. A Ruína data do tempo em que o serviço respectivo se achava a cargo do Ministério da Marinha; não o ignoravam os diversos directores dos telégrafos e faróis, nem eu própio quando interinamente superintendi na extinta direcção. Creio, porém, que todos adiaram a solução da questão , esperando que superiormente se decidisse sobre o plano definitivo de alumiamento da costa.
Como, porém, a resolução da questão poderá ainda fazer-se esperar algum tempo e o projecto do farol, e sua execução e a montagem do aparelho podem demorar-se bastante, convém efectivamente atender-se à necessidade duma nova lanterna.
Determinada a ordem do farol, poderá encomendar-se a lanterna, aqui ou no estrangeiro, e porventura assentar-se ainda este ano ou no seguinte. Logo que a comissão haja definitivamente elaborado o plano geral, e que este tenha sido aprovado, convirá que o farol de que tratamos seja um dos primeiros a executar-se.

O Plano Geral de Alumiamento e Balizagem das Costas marítimas de Portugal e Ilhas Adjacentes, aprovado pela carta lei de 20 de Março de 1883, projectava para o Cabo Carvoeiro um farol de 3ª ordem, de luz fixa branca, iluminando um sector de 315º e com 17 milhas de alcance em estado médio; esclarecia-se que o faraol ficaria de luz fixa vermelha enquanto não se alterasse o do cabo Mondego, que à data era de luz fixa branca, mas se previa passar a ser de grupos de dois clarões brancos. Em 1886, dando-se execução a um projecto da autoria do engenheiro Policarpo Lima, optar-se-ia pela instalação, em nova lanterna, de um aparelho iluminante de 3ª ordem, provido de candeeiro de três torcidas, alimentado a petróleo, que lhe garantia um alcançe luminoso de 17 milhas, dotando-se simultaneamente o farol de uma nova lanterna. O consumo anual era de cerca de 1450 quilogramas de petróleo. na mesma data montou-se em edificio próximo um sinal sonoro. A óptica girante de 4ª ordem que ali se manteria até a988, inicialmente movida por macanismo de relojoaria, foi colocada no ano de 1923.
Á fonte luminosa, que era à data um bico a nivél constante alimentado a petróleo, sucederia em 1947 o gás e em 1952 a electricidade.
Em 1988 o farol foi automatizado , retirando-se então aquela óptica e instalando-se em seu lugar umpainel rotativo de ópticas seladas, funcionando a corrente contínua, que continha todos os sistemas de reserva das funções vitais.
Autor: J.Teixeira de Aguilar.
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