segunda-feira, 8 de novembro de 2010

OPINIÃO


Com.te Joaquim Ferreira da Silva
Quando, ao longo dos últimos anos, temos vindo a apontar o MAR, como um renovado destino para Portugal, estávamos longe de imaginar termos chegado ao ponto irrisório e preocupante de termos que encontrar nos portugueses um novo espírito da época das caravelas.
No período de crise que Portugal está, indubitavelmente, a atravessar, o País não tem outra solução para a mesma se não a da resolver prioritariamente o seu problema de Finanças Públicas.
Para isso terão todos os responsáveis políticos que apontar para o futuro de Portugal quais as bases das acções de solidariedade que julguem poder constituir um forte elo que nos arranque da letargia e pobreza endémicas em que nos encontramos, em especial nos sectores da justiça, da educação e da saúde, e nos levem a melhores destinos de condição de vida e bem estar social nessas áreas.
Mas poderão as ilustres figuras da nossa intelectualidade, que apontam para o MAR como uma dessas acções prioritárias, estar convencidas que os responsáveis políticos irão levar à prática medidas de desenvolvimento das políticas marítimas para o futuro de Portugal?
Tem ultimamente surgido excelentes artigos, na nossa imprensa, clamando que o País tem de sair da caída da pobreza europeia, mas neles não se apontam soluções claras e concretas para obter o dinheiro necessário para os investimentos que tal pressuposto implicitamente obriga. E esse é o grande cerne da questão politica nacional.
Não sei como um Ministro da Educação poderá colocar os portugueses a par do nível dos seus concidadãos europeus se, quando orçamentar o seu Ministério precisar de 1000, o Ministro das Finanças apenas lhe possa dar apenas 500. Não sei como um Ministro da Justiça poderá colocar a justiça ao nível da dos Estados mais dignificantes na matéria se, quando orçamentar o seu Ministério e precisar de 1000, o Ministro das Finanças lhe dá 500 Não sei como o Ministro da Saúde ao orçamentar o seu Ministério, de modo a que o sector liberte os portugueses das angustiantes esperas para alcançarem um tratamento desejado, verificar que precisa de 1000 e o Ministro da Finanças lhe der apenas 500. E assim sucessivamente.
Sejamos mais simples e pragmáticos; sempre que o dinheiro acabou nos Ministérios o País entrou em crise. E esta só se resolve com angariação do dinheiro em falta.
Foi assim desde os primórdios da independência de Portugal quando D. Afonso Henriques, ao empreender a reconquista cristã, teve de recolher os dinheiros necessários para obter o apoio das frotas dos Cruzados. (Estes não parariam em Portugal se não lhe tivessem sido pagos. O saque prometido de Lisboa era apenas um saco de ninharias.)
Foi assim quando D. Fernando I que, ao encontrar-se com os cofres vazios delapidados por D. Pedro I, teve de empreender o desenvolvimento do comércio marítimo com a Europa.
Foi assim quando D. João I que, após longas cruzadas com Castela, para solidificar a independência e desfalcado de todas as riquezas, se viu na necessidade de iniciar a saga atlântica com a conquista de Ceuta em 1415.
Foi assim com D. Pedro IV que, depois de derrotar os miguelistas, reconstruiu o governo liberal e, para evitar a sua falência, associou-se às actividades mercantis dos ingleses na sua grande expansão colonialista.
Foi assim que face à grande crise financeira mundial causada pela guerra de 1939/45 se empreendeu a renovação da frota portuguesa por via do Despacho 100.
E terá que ser hoje assim e sempre: angariar fundos para investir e criar riqueza aos portugueses.
Qualquer leigo em economia sabe que se os portugueses continuarem a comprar todos os dias ao estrangeiro mercadorias no valor de 1000 e a venderem-lhe mercadorias no valor de 500, sem outros meios que lhe tapem o diferencial, brevemente estarão falidos ou com tudo hipotecado e escravizado aos credores.
(Se já não o estamos)
Se estivermos errados agradecemos aos economistas nos expliquem onde está o erro.
E é aqui que pensamos que Portugal só tem um futuro de sobrevivência, como Nação independente, se lançar as bases urgentes (já hoje) para acções que criem o capital necessário para investir em actividades que minimizem a pobreza e reduzam as desigualdades sociais do País. Tais como:
- Desenvolver os portos capacitando-os para receber os modernos e grandes navios porta contentores de modo a possibilitar-lhes operações rápidas na movimentação das cargas e descargas, e possuidores de vias de acesso com interligação rápida ao interior de Península, orientadas para o norte da Europa, com especial relevância para Sines e Lisboa (aqui a realização do Terminal da Golada, que tal como se fez em Sines à PSA se pode consignar aos Chineses – O seu Presidente está breve aí) – MAIS COMPETITIVOS.
- Reorganizar e modernizar os estaleiros navais de modo a tornar a construção naval num mais potencial exportador, em moldes similares à da indústria automóvel – MAIS EXPORTAÇÕES.
Valorizar e qualificar o sector turístico em todas as actividades afins com o Mar – Banhos, Recreio Náutico, Desportos, etc. – com especial relevo na modernização e maior eficácia dos meios de salvação. – MAIS QUALIDADE E SEGURANÇA.
- Reorganizar toda a actividade pesqueira acrescentando qualidade e diversificação aos seus produtos. – MAIS VALORIZAÇÃO DAS CAPTURAS E REDUÇÃO DA IMPORTAÇÃO.
- Planificar todo o ordenamento costeiro permitindo um desenvolvimento urbanístico sustentável, em molde de atracção de investimento de elevado custo e rentabilidade. – MAIS QUALIDADE AMBIENTAL.
- Estabelecer condições para atrair ao território nacional Organizações Internacionais vocacionadas com os assuntos marítimos, em especial nos transportes e nas ciências. - MAIS PROTECÇÃO DO PATRIMÓNIO MARINHO.
- Reforçar os meios navais de fiscalização da navegação que cruza as águas portuguesas com vista à protecção e prevenção do meio marinho face à possivel potencialidade de previsível poluição proveniente quer dos navios quer das actividades off-shore. – MAIS PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA SOBRE AS ESTRUTURAS NO MAR.

São estas algumas das acções relacionadas com o Mar que poderão trazer as condições para se reduzir a nossa pobreza; postos de trabalho de elevado nível, obras de grandes investimentos de alta rentabilidade, interesse dos investidores estrangeiros, subida do nível de vida e finalmente maiores contributos fiscais.
Foi assim que os suíços, há cem anos, face a um país de pobres lenhadores e camponeses, onde dificilmente encontravam um palmo de terra em condições para semear, e sem um metro de costa, partiram para o desenvolvimento de indústrias produtoras de artefactos ricos – joalharia, medicamentos, chocolates, calçados, cosméticos e até motores marítimos - tendo instituído com audácia e cepticismo um Ministério da Marinha que os levou a criar grandes frotas de navios, primeiro nos seus lagos, e mais tarde em todos os oceanos do mundo, e com elas a fazer contributo basto que os ajudou a tornarem-se num dos mais ricos países do mundo.
Se os portugueses são ainda, nos dias de hoje, conhecidos e respeitados em todo o mundo tal se deve aos seus empreendimentos marítimos.
Continuar de costas viradas ao Mar – a viajar só para Bruxelas e Estrasburgo – é um suicídio certo para todos nós.
Não há que ter vergonha ou receio de nos orgulharmos dos feitos marítimos da nossa história. Olhando o passado entende-se o presente e projecta-se o futuro.
Continuar a marginar este nosso Continente como um quadrado periférico da Europa sem valor, representa a reacção.
Lançarmo-nos em nova saga do Mar representa o progresso.
TEMOS QUATRO ANOS PARA O FAZER. VAMOS FAZÊ-LO!
Fonte: Cargo News

1 comentário:

Rui Amaro disse...

Apoio a opinião certissima do Senhor Comandante, só que com aquela "gente" que na ponte de comando está a governar o navio PORTUGAL com os gualdropes do leme rebentados, não chegamos a lado nenhum e muito menos a virar o rumo para os empreendimentos maritimos, mas a UE também tem ajudado a essa situação. Felismente temos poucas companhias de navegação, mas pelo menos parecem ser sólidas.
A propria comunicação social pouca fala das actividades maritimas, nomeadamente da marinha mercante e pescas.
Veja-se que os nossos "timoneiros" até acabaram com a excelente e valiosa Escola de Pesca e da Marinha Mercante, localizada ali junto ao Tejo, em favor duma Fundação, também de grande valia, mas que poderia ir para outro espaço mais apropriado.
Neste andar qualquer dia também acabam com a Escola Nautica Infante D. Henrique e com a Escola Naval, etc. etc.
Valha-nos o SMM e o ARGUS, e também os submersiveis, que de quatro vieram dois, apesar das polémicas. Certamente algum Santo caiu do altar!
Saudações maritimo-entusiasticas
Rui Amaro

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